Quem não gostaria de ter a chave do Céu? Mas, será que ela existe? Onde poderemos buscá-la? Talvez ela esteja mais perto de nós do que imaginamos. Quem sabe esta história nos ajude a encontrá-la…


 


O jovem que queria ser religioso


Cada vez que passava em frente ao convento dos franciscanos de sua pequena cidade, Lourenço sentia o coração bater mais forte. Ademais, aos domingos, Lourenço assistia à pregação e depois meditava nas palavras do frade de feições austeras e voz possante: “Lembrai-vos sempre, irmãos, que mais importa guardar tesouros no Céu ao invés de multiplicá-los na Terra. Além disso, o Senhor nos ensinou: ‘De que vale ao homem ganhar o mundo inteiro se vier a perder sua própria alma?’


Um dia, não resistiu e perguntou a um franciscano:


– O que devo fazer para morar aqui?


O bom religioso deu-lhe uma resposta muito simples:


– Para viver abrigado por estas santas paredes é preciso desejar acima de tudo o Reino dos Céus, abraçando a pobreza em espírito, como fez Jesus.


Uma semana depois, o jovem, carregando apenas uma malinha, entrava no convento para não mais sair.


 


Lourenço, um noviço exemplar


O mestre de noviços, que passou a acompanhá-lo, se encantava com o exemplo do Irmão Lourenço. Pois, ninguém varria o chão ou lavava os pratos com maior entusiasmo; todas as suas ações pareciam uma prece.


Um dia, Irmão Lourenço notou o hábito de um frade em mau estado, e comentou:


– Vejo que sua manga está rasgada. Quer que a costure? Senão, quando o irmão for para as missões, as pessoas vão reparar. Somos pobres, mas dignos, e não fica bem usar um hábito rasgado… Se me permitir prestar-lhe tal serviço me estará concedendo uma graça, pois sou um pecador e tenho faltas a reparar.


– Mas tu sabes costurar?


– Não muito bem… Porém, minha mãe é costureira e com ela aprendi algumas lições do ofício.


– Está bem – concluiu o frade -, vamos ver como sai o serviço.


Surpreendendo a todos, Irmão Lourenço fez um trabalho exímio.


 


Trabalho e oração para glorificar a Deus


A notícia se espalhou pelo convento. Não demorou muito em aparecer o irmão cozinheiro com uma roupa queimada, quase perdida por causa de um forno muito forte. Também o irmão porteiro… E assim por diante. Logo depois, por determinação de seu superior, exerceu a função de alfaiate do convento.


Das mãos “orantes” daquele religioso, começaram a sair maravilhas acima das expectativas.


Passaram-se os anos. Por vezes, a quantidade de pedidos o levava a dormir muito pouco, a perder as horas de recreação, e ele sentia a tentação de julgar que assim também já era demais… Mas logo pensava que Deus o chamara para glorificá-Lo daquela forma, e esse motivo o levava a dedicar-se por inteiro, redobrando as orações.


 


Preparando-se para o Céu


Irmão Lourenço tornou-se um homem maduro e, com o tempo, um ancião. Seus cabelos ficaram prateados, mas nem por isso deixou de atender os pedidos de remendos e costuras.


O implacável peso dos anos trouxe- lhe uma febre incurável, que começou a consumi-lo. Então, pressentindo a partida desta vida, ele pediu os Sacramentos e passou a falar cada vez menos. Além disso, rezava muito e pensava no encontro com Deus.


Numa madrugada gélida de inverno, Frei Lourenço parecia não resistir mais. Logo depois, o sino do convento chamou a comunidade para acompanhar o querido irmão, em seus últimos momentos.


 


“Tragam-me a chave do Céu”


Ajoelhados, rezavam a oração dos agonizantes. Inesperadamente, um fio de voz quase imperceptível foi ouvido. Era Irmão Lourenço que pedia:


– Tragam-me a chave… a chave do Céu…


Os frades não entenderam. Qual seria essa “chave do Céu”? Então, um deles saiu correndo rumo à biblioteca e voltou com um livro chamado A chave do Céu. Colocaram-no diante do moribundo, mas ele não se interessou. Apenas repetiu:


– Eu quero… a chave… a chave do Céu…


O superior mandou que trouxessem uma relíquia de São Francisco, à qual o enfermo tinha muita devoção. Mas ele seguia com seu raro pedido…


Então, a fisionomia de um irmão se iluminou. Por fim, cruzou rapidamente os corredores e voltou com a agulha de Irmão Lourenço. Ao vê-la, este esboçou um sorriso e disse:


– Sim, esta é minha chave do Céu! – e expirou


Sem ser grande aos olhos do mundo, nem receber recompensa por seus serviços, Irmão Lourenço se santificara com uma agulha na mão, trabalhando por amor a Deus. Para cada um a Providência tem preparada uma “chave” que lhe abrirá o Céu. Trata-se de saber cumprir sua vontade e seus desígnios. “Bem-aventurados os pobres em espírito, porque deles é o Reino dos Céus” (Mt 5, 3).